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— Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Igreja é a que for a verdadeira Igreja?
E o outro respondeu: «É claro que concordo».
— Se estamos, pois, de acordo — disse o católico —, vamos jantar juntos.
Assim fizeram, e como o católico não ficou ofendido e doesse ao cristão a possibilidade de o haver ofendido, foi o católico que comeu com vontade e o cristáo quem, por sua vontade, pagou a conta.
Moralidade:
Esta pergunta, mas da qual — a resposta de Lope de Vega, que se está em 1900.
Havia em um dos arrabaldes de Lisboa um homem chamado Silva. Este Silva casou, já pouco jovem, com uma viúva que tinha uma filha quase mulher. A mulher do Silva passou logo a dominá-lo; e a enteada, à medida que crescia, mais e mais ajudava a mãe no dominio do padrasto.
O Silva passou a ser um trapo humano. Deixou de ter personalidade, vontade e lugar. Em tudo na vida doméstica como na prática, era um servo da vontade da mulher, quando o não era da vontade, por vezes até espontânea, da filha déla.
Como o domínio gera o desprezo, e o desprezo permite tudo, a mulher do Silva, apesar de não ser de espírito leviano, foi levada, pelas circunstáncias, a trair o marido. O amante, que era um indivíduo que fora promovido a primo déla para efeitos decorativos, foi elevado a quase residente na casa, e o Silva que não podia ignorar a sua categoria sexual, tinha que o receber, que lhe sorrir bem e que lhe exprimir, por palavras e modos, o prazer que lhe dava a sua excessiva visita. E assim fazia o Silva.
Mais tarde, conseguiu a mulher do Silva que o amante fosse nomeado por este gerente e mandatário das suas propriedades, dele Silva. E assim seguia e se consumava o domínio do marido, mero animal pagante naquela engrenagem de domesticação.
Ora o Silva tinha um papagaio — ave já velha e nem por isso muito esperta: gritava mais do que falava, e, quando falava, era sempre a mesma coisa. Um dia a mulher do Silva, maçada, muito naturalmente, com o vozear do pássaro, ergueu-lhe o poleiro da escápula sobre o quintal e vendeu-o a um viandante qualquer.
Quando o Silva voltou, à noite, para casa, e lhe faltou, de aí a minutos, a voz rouca da ave, procurou-a na escápula da parede sobre o quintal, não a viu, e foi à casa de jantar perguntar à mulher por ele.
«Vendi-o» disse ela, e enteada ria. O Silva retirou-se como de costume, sem dizer nada.
Foi, porém, ao quarto de cama, tirou o revólver da gaveta da mesa de cabeceira, voltou à casa de jantar e, com dois tiros calmos, certos e sucessivos, matou a mulher e a enteada.
Moralidade:
Nações imperiais e dominadoras, expansivas, cuidado sempre com o papagaio!
Quando as quatro varinas corriam em losango pela rúa e ao lado, a do avanço, loura e com olhos, deu com o instinto de troça contra o homem moço de barbas de velho que vinha tendo ar de sábio pelo passeio às avessas. E parou, e, instintivamente, os transeuntes pararam. E ela largou a mão de alto, de sobre a canastra, apontou para o homem e disse:
— Olhem para este barbaças.
Toda a paisagem humana riu junta.
O homem mogo de barbas velhas parou à beira do passeio como de um cais, olhou abstracamente a varina, e disse num tom triste:
— Bem se vê que foi tua avó que te pariu!
A varina estacou mais, corou, emudeceu com uns poucos de silêncios, e em torno rebentou, depois de um pouco, uma gargalhada do público já trespassado. Não se distinguía se a gargalhada era da resposta, se da confúsáo muda da varina loura.
O homem moço passou, levou as barbas de velho escondidas pelas costas viradas ao público que o aplaudira. Depois, num café, contou o episódio a um amigo. O amigo ouviu, riu, e depois não pôde rir. Por fim fez um gesto em que a face era envergonhada a medo.
— Você desculpe. Eu serei talvez estúpido, ou estarei estúpido hoje. Mas o que quer isso dizer?
— Não quer dizer nada, respondeu o outro. E aí é que está o golpe.
Moral:
Confundir é vencer.